Sessões de Comunicação

Apresentam-se abaixo as mesas de comunicações do V Colóquio Autores do Renascimento.

As sessões de comunicação ocorrerão sempre às 16h30, nas salas 261 e 266 do Prédio de Letras (salas do Lapel).

No final desta página você pode baixar a programação das mesas, com respectivos resumos, em PDF.

SESSÕES DE COMUNICAÇÕES DO V COLÓQUIO – 2022

COM RESUMO

Sessão de Comunicações 1 (dia 19/09, segunda-feira, 16h30)

Dante e Maquiavel

Coordenador: Prof. Dr. Eduardo Henrik Aubert (USP)

Comunicações:

1) O conceito de humana civilitas e a universalidade do Direito no tratado De Monarchia de Dante Alighieri

Felipe Faria Camargo (USP)

Resumo: Conhecido como Il Sommo Poeta por sua Commedia, Dante Alighieri se notabilizou também na política. Aos 35 anos foi prior de Florença, mas disputas de facções provocaram seu exílio em 1301 pelo governo pró-papal dos guelfos negros. Diante do acirramento da querela entre papa e imperador germânico pela hegemonia na península itálica, Dante escreveu De Monarchia em 1313, defendendo a submissão do gênero humano a um Império, para garantir a paz entre os povos visando a felicidade terrestre, enquanto a Igreja seria guia dos homens à felicidade celeste.

Nesta comunicação, exporemos como Dante se apropria da ideia de “regime de um só” (monarquia), referenciando-se em Tomás de Aquino e Aristóteles, e a aplica ao seu conceito de humana civilitas. No início do Trecento, a única ideia de uma sociedade universal era sobrenatural (christianitas), baseada no pensamento agostiniano da necessidade de unificar a humanidade na Cidade de Deus pela aceitação comum da fé cristã. A defesa dantesca de uma sociedade política universal expõe uma concepção da política e do direito “centrada no homem”, que separa o elemento “homem” (e “cidadão”) do elemento “cristão” com base no direito natural, interpretação que ganha relevo a partir de comentários à obra.

2) O embate Machiavelli/Dante no século XVI sobre a Questione della Lingua

Profa. Dra. Maria Cecilia Casini (USP)

Resumo: Nas primeiras décadas do século XVI a Itália fervilhava com embates e discussões ideológicas sobre qual deveria ser, e como, a língua da península italiana: a assim chamada Questione della Lingua. Havia várias vertentes de discussões, muito vivazes e em contraste uma com a outra. A que se impôs foi aquela da qual descende o italiano moderno, que todos nós falamos. A de Machiavelli, era outra: e ele não hesita em chamar do além o próprio Dante para discutir com ele em que língua, verdadeiramente, o florentino havia escrito a Divina Commedia. Pretendemos discutir a relevância dessa polêmica de 500 anos atrás, cheia de charme e ironia.

3) A ironia e o inferno ético em A Mandrágora

Profa. Dra. Marina Rute Pacheco (UFRB)

Resumo: Esta comunicação é referente a análise dos aspectos cômicos, jocosos e irônicos na peça teatral, La Mandragola, de Niccolò Machiavelli. Pretendeu-se investigar como que através do escárnio propriamente dito, e da figura de pensamento, a ironia, ou do dito pelo não dito, como a crítica dramatúrgica à sociedade da época se realiza. Marcada por diálogos intrigantes e cômicos trata-se de uma comédia em cinco atos que representa, sobretudo, os conflitos dos indivíduos com a moral e a ética, além de trazer referências da vida cotidiana, como o contexto de guerras em que se vivia, aludindo a invasão da Itália pelo Rei da França. Se nas suas obras famosas O príncipe e Discursos, vemos o tema da natureza humana aparecer de forma teórica, em obras como A Mandrágora podemos visualizar o mesmo tema, mas de forma literária. Ou seja, esta pesquisa partiu da hipótese de que em Maquiavel há uma adaptação à dramaturgia cômica dos aspectos fundamentais de suas ideias sobre a vida política. Verificou-se que por meio da figura de pensamento ironia é possível identificar dimensões centrais do seu pensamento político como os dilemas da ação e o pessimismo metodológico referente à natureza humana.

Sessão de Comunicações 2 (dia 20/09, terça-feira, 16h30)

Filosofia e Religião no Renascimento

Coordenador: Profa. Dra. Elaine Cristine Sartorelli (USP)

Comunicações:

1) As vozes do Humanismo Cristão no diálogo literário português: de André do Prado a frei Amador Arraiz

Prof. Dr. Roberto Carmo Antunes (UNL)

Resumo: No âmbito dos estudos desenvolvidos pelo IELT da NOVAFCSH, responsáveis por um novo olhar sobre o papel desempenhado pelos diálogos literários na cultura Humanista e literária de Portugal durante o Renascimento, propomos um exame diacrônico desse gênero perspectivado pela consideração da oposição e convivência entre o Humanismo e a Escolástica naquela época, com atenção nomeadamente às proposições polêmicas dos humanistas Lorenzo Valla e Poggio Bracciolini, que vivenciaram de modo distinto as novidades do seu tempo. Os diálogos de tema teológico Horologium Fidei, de André do Prado, Ropicapnefma de João de Barros, Imagem da Vida Cristã de frei Heitor Pinto e Diálogos de frei Amador Arraiz revelam-nos bem o como, o quanto e o porquê da peculiar reinterpretação dos ideais italianos pela classe letrada portuguesa.  

2) O comentário no Renascimento: o caso de Marsilio Ficino e a recepção dos diálogos de Platão

Leonardo Bento Oliveira Leite (UFRJ)

Resumo: Marsilio Ficino é o principal nome quando tratamos da recepção da obra de Platão no Renascimento. Sua obra compreende traduções dos diálogos platônicos à língua latina, comentários e escritos originais. Voltada especificamente ao comentário, esta comunicação visa a definir os contornos do esforço de assimilação de um filósofo pagão ateniense por um pensador comprometido com os imperativos de seu tempo e da Florença que habitava: o cristianismo e a influência dos Medici. Para tanto, esta análise será circunscrita ao texto de Ficino dedicado à análise do Filebo de Platão, Commentaria Marsilii Ficini Florentini in Philebum Platonis de Summo Bono. Submetido ao enquadramento teórico-metodológico dos estudos da recepção, o objeto em questão deverá se provar uma fonte privilegiada de compreensão do projeto de compatibilização da filosofia grega ao contexto florentino do século XV, projeto esse que passa necessariamente pela reconfiguração do gênero textual comentário.

3) Quanto a mim, passava dos seis anos sem ter ouvido mais o francês ou o perigordano do que o árabe”: alguns exageros no autorretrato de Montaigne

Prof. Dr. Pedro Carné (UFCG)

Resumo: O objetivo desta comunicação consiste em investigar a plausibilidade da conjunção de duas afirmações de Montaigne acerca de si mesmo. No ensaio sobre a educação das crianças, Montaigne afirma ter passado dos seis anos sem ter ouvido qualquer palavra de francês ou perigordano; já no ensaio sobre a experiência, ele afirma ter sido amamentado por camponeses em um vilarejo próximo ao seu castelo. Pretende-se aqui defender a implausibilidade da afirmação de Montaigne sobre não ter ouvido, pelo menos, o perigordano durante sua primeira infância.

Sessão de Comunicações 3 (dia 21/09, quarta-feira, 16h30)

Leonardo Bruni

Coordenador: Prof. Dr. Sérgio Cardoso (USP)

Comunicações:

1) “O medo passou a ser universal e pervasivo e o sentimento da cidade mudou de paz e felicidade para alarme e ansiedade”: a cidade e o tempo na História do Povo Florentino de Leonardo Bruni

Matheus Teixeira Moretti (UFRJ)

Resumo: O vocabulário mobilizado por Leonardo Bruni para nomear os estados das coisas (conditio rerum) ao longo de sua História do Povo Florentino permite-nos refletir sobre a tensão presente em sua narrativa ao situar uma expectativa em torno da estabilidade e uma experiência do tempo que parece desafiar este mesmo horizonte. Deste modo, aquelas situações nomeadas como estabilidade e concórdia cívica - e que são alinhadas às noções de esperança e tranquilidade - sofrem, com grande frequência, reveses pelas condições representas como instabilidade, desordem e crise. Estas noções são conjugadas, por sua vez, ao que seria uma condição de medo, ansiedade e desconfiança. Tudo isso é situado como resultado da ação da natureza, da ação (ou inação) humana, dos “jogos da fortuna”, do tempo da ocasião e do revés – imagens do tempo que ocupam um lugar de importância no contexto do Quattrocento. Com isso, a narrativa bruniana sobre o declínio e a ascensão de cidades e povos, bem como de suas formas de governo, é articulada à construção de um espaço que sublinha os efeitos do desenrolar dos acontecimentos sobre a condição e a experiência cívica do tempo.

2) Ius e libertas: os pilares constitucionais da cidade ideal de Leonardo Bruni

Carlos Wagner Leal Barbosa Júnior (UFF)

Resumo: Na Laudatio Florentinae Urbis o humanista e chanceler florentino Leonardo Bruni faz a defesa do regime republicano em sua cidade. Utilizando-se de um modelo literário já conhecido no contexto humanista do Quattrocento, o panegírico, Bruni atribui à retórica uma função política, fazendo desta o meio de comunicação da mensagem de defesa de Florença. Nesta obra, o autor mobiliza diversos argumentos com a finalidade de defesa da liberdade republicana. No entanto, o que interessa a este trabalho é o tema da organização constitucional. Tendo inspiração nos antigos, dentre os quais destacam-se Aristóteles, Políbio e, principalmente, Cícero, o humanista florentino defende uma concepção ampliada da cidadania, fazendo a defesa de um “governo popular”. Para o autor, a manutenção da liberdade só seria possível mediante o império das leis. Inserindo-se no debate acerca da relevância dos textos do humanismo cívico no campo da teoria política, este trabalho afasta-se das leituras de Skinner (1996) e Hankins (2014), que compreendem o texto bruniano como expoente do pensamento medieval. Este trabalho aproxima-se da compreensão de Baron (1955) e Pocock (1975) na leitura de Leonardo Bruni como autor paradigmático no contexto político do Quattrocento italiano.

3) Republicanismo em Bruni: em torno de uma polêmica

Bruna Ribeiro Martins (UFMG)

Resumo: A presente comunicação tem por objetivo explorar a polêmica que aparece na tradição interpretativa que se dedica à especificação do papel de Leonardo Bruni (1370-1444) na cena política de Florença do século XV, de maneira a destacar de que modo a recepção pelo humanista de Cícero e Aristóteles está diretamente imbricada na eleição de valores republicanos. Para se dedicar a esse tema, tem-se em vista a querela entre Baron (1955, 1967) e Siegel (1966) sobre a presença de Cícero no autor e como ela o afastaria ou não de preocupações eminentemente políticas e o texto de Bruni em que se dedica ao tema da tradução, explicitando o que deve ser mobilizado para que ela seja realizada da forma mais adequada. A nossa aposta é a de que a concepção de Bruni sobre tradução oferece uma chave de leitura para a retomada da disputa entre os intérpretes mencionados acima, no sentido de elucidar como a recepção dos autores antigos está sendo feita a partir de uma interpretação do que seria pertinente ou não para a formação de uma cultura de revalorização da vida pública na Florença do século XV.

Sessão de Comunicações 4 (dia 22/09, quinta-feira, 16h30)

Poesia

Coordenador: Tiago Augusto Nápoli (USP)

Comunicações:

1) Visões divinas e diabólicas na Canção de Rolando e em Fierabrás

Elisângela Coelho Morais (UFMA)

Resumo: Durante o reinado da monarquia Capetíngia no século XII, foi produzido um conjunto de textos que falavam das realizações do rei franco Carlos Magno e seus pares. Esses relatos eram baseados em sua trajetória, sendo redigidos sob uma perspectiva de Cruzada, onde o rei dos francos era mostrado como um guerreiro cristão ideal que combatia os sarracenos em defesa da Cristandade. Entre esses escritos estão a Chanson de Roland e Fierabrás, narrativas inspiradas pelo ambiente da época, que valorizavam a manutenção da fé cristã e “o lado direito”, obtendo as benesses do Céu, manifestadas em aparições angélicas. Do outro lado aparecem as punições para aqueles contrários a essa crença, posicionados no “lado do erro”, caracterizados como idólatras, mantendo estreito contato com demônios, os quais mentem e atraiçoam. Em ambos os relatos, há a intenção de mostrar ao público as penas de se permanecer no pecado, e as recompensas alcançadas pela obediência ao rei e à Igreja. 

2) A emulação nas epístolas dedicatórias das silvas neolatinas de Policiano e Vásquez

Luiza Helena Rodrigues de Abreu Carvalho (UFES)

Resumo: Nesta comunicação, apresentaremos um estudo acerca dos elementos de emulação existentes nos prefácios das silvas Nutricia de Angelo Policiano e da Parisiense de Juan Vásquez. Ambos os autores têm na lírica laudatória de Estácio o primeiro modelo do gênero, que vem da Antiguidade, porém, embora o elogio esteja também presente nas composições renascentistas, a função desses poemas neolatinos parece ser diferente daqueles feitos pelo vate flaviano de louvar uma ocasião. Por isso, partindo dos conceitos de imitação e emulação na produção poética clássica, identificamos as relações intertextuais existentes nas epístolas dedicatórias das silvas neolatinas a fim de constatarmos que, ainda que não haja uma menção explícita a Policiano no prefácio de Vásquez, a Nutricia é o principal modelo de imitação da Parisiense.

3) Uma visão renascentista sobre retórica e poesia: o caso das anotações manuscritas do cortesão inglês Gabriel Harvey nos exemplares de sua biblioteca

Lavinia Silvares (Unifesp)

Resumo: Contemporâneo de Shakespeare, Gabriel Harvey (1552-1631) é um daqueles autores renascentistas difíceis de classificar, pela diversidade de sua obra e pela versatilidade de sua atuação. Foi professor de retórica e de grego na Universidade de Cambridge; compôs poemas em latim e em inglês, além de tratados sobre versificação; frequentava a corte da rainha Elizabeth, atuando como preceptor de jovens nobres; engajou-se em disputas literárias caras à época, como a adaptação da preceptiva latina para a composição de versos em vernáculo. No entanto, um dos traços mais surpreendentes no caso de Harvey é a extensa anotação manuscrita que fazia nos volumes de sua biblioteca, trazendo à luz uma visão particular sobre a obra de poetas e tratadistas antigos e contemporâneos. Esta comunicação propõe apresentar e discutir uma seleção das anotações de Harvey sobre retórica e poesia, sobretudo as de seu exemplar das Instituições Oratórias de Quintiliano, na edição latina de 1542, publicada em Paris.